IMPACTOS DA INDÚSTRIA 4.0 NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO:
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Jorge Rosa[1], Valdinei Trombini[2]
RESUMO: A jornada em direção à Indústria 4.0 e a crescente aplicação de tecnologias nos ambientes fabris estão trazendo mudanças nas indústrias manufatureiras. Para entender o alcance dessas mudanças e preparar não somente a indústria mas também os empregados, faz-se necessário o entendimento dessa mudança e dos desafios que virão com o advento da Indústria 4.0. Nesse cenário, o artigo busca compreender o estado da literatura por meio de uma revisão sistemática e identificar características que podem contribuir para uma análise de possíveis impactos na Organização do Trabalho em função da chamada Quarta Revolução Industrial. As respostas encontradas mostram as principais mudanças na organização do trabalho e, revela também, que a utilização de tecnologias nas indústrias vem mudando os requisitos e habilidades que são exigidos para os empregados. Na última seção, serão apresentados os resultados e o artigo pretende, também, responder às questões-problemas propostas nesse trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: indústria 4.0; quarta revolução industrial; organização do trabalho; revisão sistemática.
IMPACTS OF THE INDUSTRY 4.O ON WORK ORGANIZATION: A SYSTEMATIC REVIEW OF THE LITERATURE
ABSTRACT: The journey towards Industry 4.0 and the increasing application of technologies in manufacturing environments are bringing changes in the manufacturing industries. To understand the scope of these changes and prepare not only the industry but also the employees, it is necessary to understand this changes and the challenges that will come with the advent of Industry 4.0. In this scenario, the article seeks to understand the state of the literature through a systematic review and identify characteristics that can contribute to na analysis of possible impacts on Work Organization due to the so-called Fourth Industrial Revolution. The answers found show the main changes in the organization of work and also reveal that the use of technologies in industries has been changing the requirements and skills that are required for employees. In the last section, the results will be presented and the article also intends to answer the problem-questions proposed in this research.
KEYWORDS: industry 4.0; fourth industrial revolution; work organization; systematic review.
INTRODUÇÃO
A convergência de inovações tecnológicas em nível físico, biológico e digital promete modificar a forma como convivemos, consumimos e, sobretudo, como trabalhamos, em uma autêntica revolução, conforme Klaus Schwab afirma na obra “A quarta revolução industrial”.
De acordo com o autor, ainda precisamos compreender de forma mais abrangente a velocidade e amplitude dessa nova revolução, pois somos testemunhas de mudanças profundas em todos os setores, marcadas pelo surgimento de novos modelos de negócios, pela descontinuidade dos operadores e pela reformulação da produção.
No contexto da Indústria 4.0, não se pode negar que a organização do trabalho e seus processos terão mudanças em função da automação processual e do controle em tempo real. No entanto, até o momento há resultados limitados sobre como os perfis de tarefas e competências de trabalho mudarão assim que os processos de produção forem mais digitalizados e controlados de forma autônoma e conectados em redes (Georg Spöttl e Lars Windelband, 2021).
Junto com o advento da Indústria 4.0, surge a necessidade de explorar o tema com o objetivo de entender as implicações desse novo conceito na organização do trabalho, sobretudo aquelas relacionadas à qualificação da mão de obra e o novo perfil do profissional que serão requisitados pelas indústrias.
Nesse sentido, o objetivo desse é estudo é analisar, por meio de uma revisão sistemática da literatura (RSL), o estado da literatura dos últimos 5 anos sobre os impactos da Indústria 4.0 na Organização do Trabalho, podendo contribuir para um avanço nas análises de como a tecnologia e a mão de obra poderão coexistir.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Com o advento da indústria 4.0, as empresas de manufatura estão executando seu trabalho de uma forma diferente. Os processos de produção estão se movendo para serem interconectados, no qual as informações são baseadas em dados reais como uma forma de aumentar a eficiência e acurácia para as tomadas de decisão (Alami; Elmaraghy, 2021).
Ghobakhloo, 2018 destaca que desde o início da industrialização, ocorreram várias etapas e mudanças de paradigma que hoje são as chamadas revoluções industriais: no campo da mecanização (chamada de 1ª revolução industrial), o uso intensivo de energia elétrica (chamado de 2ª revolução industrial) e digitalização generalizada (chamada de 3ª revolução industrial). Nesse sentido, para essa expectativa futura, foi estabelecido o termo “Indústria 4.0” para uma 4ª revolução industrial. A Indústria 4.0 se origina da versão “Industrie 4.0”, a iniciativa de digitalização da Alemanha para aumentar a competitividade da indústria manufatureira.
Guo et al (2020) afirma que até o momento todas as revoluções industriais que aconteceram nos dois séculos foram caracterizadas por alterar os sistemas de produção ou fabricação, impulsionados por tecnologias emergentes e mudanças no mercado que aconteciam na época.
Guo et al (2020), menciona que tecnologias da indústria 4.0, como IIoT, computação em nuvem, Sistemas Ciber-Físicos e gêmeos digitais fornecem proporcionam à manufatura a capacidade de coletar e compartilhar automaticamente dados em tempo real. Padrões técnicos e arquiteturas com alto grau de conectividade, interoperabilidade e acessibilidade devem ser projetadas para definir as especificações para troca de informações entre “coisas em tempo real”, que é a base para transformar em fabricação em tempo real no contexto da Indústria 4.0.
Ao avaliar os efeitos da Indústria 4.0 o que muitas vezes falta é um “olhar sistemático” sobre a abordagem em sua totalidade, ou seja, a reflexão em termos de cadeias de processos. Devido à Indústria 4.0, o papel da força de trabalho sofrerá mudanças consideráveis. No entanto, ainda é incerto qual direção essa mudança tomará. (Forschungsunion, acatech, 2013).
METODOLOGIA DA PESQUISA
Com o objetivo atingir a proposta desse artigo, realizou-se uma revisão sistemática da literatura. Para fazer esse estudo adotou-se como principal fonte de pesquisa uma revisão aprofundada da literatura por meio de RSL desenvolvida por Kietchenhan e Charters (2007), na qual existem três etapas (figura 1): Planejamento (identificação da necessidade da revisão e especificação da questão de pesquisa), Condução (estratégia de busca, seleção de critério e plano de extração e análise de dados) e Apresentação (estruturação e discussão dos resultado e formatação e edição do documento final).
Figura 1 – Fases da RSL
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Kietchenham e Charters (2007)
Por ser considerada um dos maiores banco de dados de resumos e citações da literatura em diversas áreas de conhecimento, a base “Scopus” foi a selecionada para a pesquisa.
O acesso na base ocorreu em Junho e Julho de 2022 e os dados coletados referem-se a esse período, excluindo-se da pesquisa os documentos inseridos após essa data.
Para a garantia de que a revisão fosse a mais extensa e inclusiva possível, mas dentro do escopo, a estratégia de busca incluiu combinações de várias palavras-chaves relevantes para a Indústria 4.0 e Organização do trabalho (industry 4.0; forth industrial revolution, digitalization of work, employment, work organization, human factors, working environment)
A estratégia e critérios de busca são demonstrados no quadro 1.
Quadro 1: Estratégia e critérios de busca
Fonte: Elaborado pelo autor
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhos foram lidos e analisados minuciosamente objetivando encontrar respostas para ao menos 1 (uma) das questões problemas dessa pesquisa.
Nesse sentido, foram encontrados alguns aspectos comuns nos documentos analisados que, mesmo de maneira limitada, podem contribuir para as respostas dessas questões.
1 - Quais os impactos da Indústria 4.0 na Organização do Trabalho?
Foram encontrados nos artigos analisados a abordagem de três grupos de impactos da Indústria 4.0 na Organização do trabalho, conforme mostrado no quadro 2:
Quadro 2: Impactos da Indústria 4.0 na Organização do Trabalho
Fonte: Elaborado pelo autor
2 - Com o advento da Indústria 4.0, quais são as novas competências exigidas e necessárias para os trabalhadores?
Com base em pesquisas em empresas e entrevistas com especialistas, os requisitos mais importantes para se trabalhar em ambientes produtivos decorrentes da implementação da “Indústria 4.0” podem ser resumidos da seguinte forma: o domínio de sistemas em rede com inteligência descentralizada, a capacidade de lidar com dados e sua análise, bem como a capacidade de garantir uma operação impecável das plantas (G. Spoettl, C. Gorldt., L. Windelband, T. Grantz e T. Richter, 2016).
Conforme Spottl, G, 2018, a interação entre homem e máquina está mudando consideravelmente. Isto é sublinhado pelo uso mais intenso de processamento de imagem, transferência de informação via processamento visual em diferentes aparelhos de usuário, uso de vídeos e linguagem audiovisual etc. Isso requer competências que até agora não foram consideradas relevantes.
Dessa forma, as competências indicadas abaixo estão entre as básicas para os trabalhadores poderem lidar e, sobretudo, se adaptar às novas demandas da Indústria 4.0.
Aprender a pensar a partir do software, conhecer estruturas de rede; Aprender a dominar as tecnologias de Big Data; Aprender a trabalhar com uma variedade de formatos de dados; Aprender como iniciar inovações; Foco na sensibilidade do desenvolvimento tecnológico e das inovações. Compreender e dominar processos; Aprender a assumir mais responsabilidade;
CONCLUSÕES
A indústria 4.0, em função do rápido desenvolvimento tecnológico, redireciona as empresas manufatureiras. Os processos são mais eficientes e, portanto, trazem mais produtividade. No entanto, com o advento dessas novas tecnologias, efeitos e implicações podem ocorrer na Organização do Trabalho, sobretudo com relação às novas habilidades exigidas para os trabalhadores.
Embora seja um tema atual, a literatura sobre o tema ainda carece de debates direcionados a questões problemas que foram propostas nesse trabalho. O resultado das análises sobre os impactos que a Indústria 4.0 na Organização do Trabalho mostra que mudanças serão inevitáveis.
Mesmo que de maneira limitada, as respostas para as questões problemas puderam ser respondidas após o término da pesquisa. No sentido de contribuir para futuras pesquisas, esse trabalho empregou o método de revisão sistemática para entender o estado da literatura sobre o tema, principalmente aquele relacionado às mudanças de paradigmas nas fábricas tradicionais, trazendo uma visão do que tem sido abordado nos últimos anos. Foram identificados e analisados 3 grupos de impactos na Organização do Trabalho que tendem a ser ainda mais explorados ao passo que a Indústria 4.0 for sendo implementada nas indústrias manufatureiras. Ademais, requisitos e competências no perfil dos trabalhadores também sofrerão mudanças, uma vez que a capacidade analítica do trabalhador estará cada vez mais voltada a dados. Com isso, a busca pelas empresas de certas habilidades relacionadas ao uso de tecnologia no ambiente fabril será cada vez maior.
Os desafios que as empresas podem vir a enfrentar podem ser complexos e demandam uma estrutura organizacional dinâmica e assertiva para levar em conta todo os impactos e mudanças desencadeadas pela Indústria 4.0 na Organização do trabalho, destacando a importância de entrosar a inserção de tecnologia nas indústrias com a qualificação da mão de obra.
REFERÊNCIAS
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[1] Instituto Federal São Paulo, [email protected]
[2] Instituto Federal São Paulo, [email protected]